PADRE ALVES BRÁS

Ano Jubilar da Família Blasiana

Data

No ano em que se completam 50 anos sobre a morte de Monsenhor Alves Brás a Família Blasiana celebra um Ano Jubilar. Em entrevista ao Jornal da Família, Alice Cardoso, Coordenadora Geral do Instituto Secular das Cooperadoras da Família (ISCF), afirma que à Família Blasiana “cabe a árdua tarefa de continuar a ler e a interpretar os sinais dos tempos, como sentinelas ativas” para “discernir o espaço próprio de intervenção e equacionar respostas adequadas às reais necessidades das famílias hoje”. Entrevista na integrada publicada no Jornal da Família (edição novembro de 2015).  

O Dia Mundial das Missões foi a data escolhida para a abertura da Celebração do Cinquentenário da morte do Venerável Pe. Joaquim Alves Brás. Porquê a escolha deste dia? 
A escolha deste dia reuniu consensos de vários membros da Família Blasiana por expressar uma perfeita sintonia entre o Dia Mundial das Missões, a vida e a Obra do Venerável Pe. Joaquim Alves Brás e o tema do ano celebrativo – “Pe. Brás: um coração compassivo e empreendedor”. A vida e Obra do Fundador revelam a nobreza e a grandeza de um coração compassivo e a força empreendedora e missionária do Apóstolo da Família em Portugal, anseios depreendidos das suas próprias palavras: “ A minha alma nunca está satisfeita, o Senhor pede-me sempre mais”. (Pe. Brás)

A família esteve sempre no centro das obras fundadas por Monsenhor Alves Brás. As problemáticas que afetavam as famílias dos anos 30 são as mesmas dos dias de hoje?
A promoção e dignificação da mulher e da família estiveram sempre no horizonte da sua ação pastoral, apostólica e social. A sua primeira homilia na Paróquia das Donas – Fundão deixa transparecer um carinho muito particular e uma delicada sensibilidade às questões familiares: “saúdo-vos pais e mães de família, que tendes sobre os vossos ombros o pesadíssimo ónus da educação dos vossos filhos… Crede que ocupais uma parte no meu coração de Pároco”. Estávamos então em 1925. O contexto familiar, social, político e económico tinham marcas evidentes da família alargada, onde o sector primário predominava sobre o secundário e o terciário. A divisão de classes eram muito evidentes, o acesso à educação/formação e aos serviços de saúde eram apenas benefícios de alguns… as famílias lutavam com sérios problemas de pobreza de vária ordem… A busca de melhores condições de vida, a todos os níveis, fez emergir um grande fluxo migratório do campo para a cidade e com ele sonhos e projetos se desenharam no horizonte de tantas famílias e de tantas jovens, futuras mães de família.

As famílias, atualmente, continuam imersas em problemáticas multiformes e com expressões muito díspares daquelas que grassavam nos anos 30. A multiplicação dos divórcios e o aumento das uniões de fato, a exaltação de uma cultura individualista e hedonista, a perplexidade das relações gerada pela coabitação “dos meus, os teus e os nossos”, as famílias monoparentais, o drama do desemprego e da precariedade do trabalho, a dificuldade de articulação família e trabalho, a educação integral dos filhos… um sem fim de questões e muitas preocupações afligem as famílias dos nossos dias.

De que forma a família blasiana dá continuidade à missão iniciada pelo Pe. Brás?
É no contexto que acabo de referir que a Família Blasiana: (Instituto Secular das Cooperadoras da Família, Obra de Santa Zita, Centro de Cooperação Familiar, Fundação Monsenhor Alves Brás – Escola Profissional de Agentes de serviço e Apoio Social, Movimento por um Lar Cristão e Jovens Focos de Esperança), na diversidade da ação que desenvolve, é chamada a dar continuidade ao carisma e à missão do seu Fundador – promover, dignificar e santificar a família. À semelhança do Fundador a cada Instituição, ou grupo desta grande família, cabe a árdua tarefa de continuar a ler e a interpretar os sinais dos tempos, como sentinelas ativas, sempre à espreita para captar o sentido profundo da história e com liberdade interior, audácia e lucidez de mente e de espírito, discernir o espaço próprio de intervenção e equacionar respostas adequadas às reais necessidades das famílias hoje.

Atualmente, a Família Blasiana concretiza a sua missão através de um conjunto de atividades e projetos entre os quais destaca: o apoio à infância, nas Respostas Sociais de Creche, Jardim de Infância, ATL e Centro de Acolhimento temporário (CAT); o apoio à adolescência e juventude, através da Escola Profissional Agentes de Serviço e Apoio Social que ministra formação profissional e académica de nível IV e da aposta na formação integral do jovem e/ou adulto através de um conjunto de ações de formação contínua certificada em várias áreas do saber; no acompanhamento de várias idades a nível humano, doutrinal e espiritual, onde se destaca o grupo de Jovens Focos de Esperança (Juventude Blasiana) através de encontros para o despertar e aprofundar da fé, promoção de retiros, campos de férias, encontros de discernimento vocacional, encontros culturais e recreativos, atividades solidárias…; no apoio à pessoa idosa, em Estruturas Residenciais de Pessoas Idosas (Lar), nas Respostas Sociais de Centro de Dia e no Serviço de Apoio ao Domicilio; no apoio à família através de Centros de Aconselhamento Familiar (CAF), com uma equipa multidisciplinar que integra técnicos, em regime de voluntariado, das áreas do direito, da medicina, da psicologia, do serviço social e ainda através da publicação mensal do Jornal da Família.

O início destas celebrações ocorre na mesma altura de grandes acontecimentos eclesiais ligados à família: o Encontro Mundial das Famílias, em Filadélfia, e o Sínodo dos Bispos Sobre a Família. Esta conjuntura poderá reforçar todo o trabalho que a família blasiana desenvolve em torno da família?
Sem dúvida, que reforça! Nos nossos dias assiste-se a uma mudança de paradigma, na conceção da família, que tende a esvaziá-la do seu significado mais profundo, a nível teológico e humano e a ‘aligeirar’ os seus compromissos e o seu contributo único na construção de uma sociedade mais humana e humanizadora.

Num tempo em que a Igreja volta a sua atenção para a família, reafirmando a beleza, a grandeza e a importância da sua vocação e missão, na sociedade actual, reunindo-se em Assembleia para encontrar respostas pastorais que vão mais de encontro às suas problemáticas atuais, a nível eclesial e social, a Família Blasiana deve, não só imprimir novo vigor, à sua missão, como sintonizar e fazer próprias estas preocupações sinodais.

Cabe-lhe desenvolver iniciativas que se enquadrem nas respostas que a Igreja quer dar às Famílias, a fim de que esta realize a sua vocação de ‘Igreja doméstica’, como desejou o concílio. Aliás, esta preocupação está reflectida nas linhas-força saídas da Assembleia de 2015, a concretizar ao longo do sexénio. A família continua no centro das atenções. É urgente promover e cuidar da sua vocação e missão na Igreja e no mundo.

Evidenciar a vida e obra deste sacerdote é um dos objetivos destas celebrações. De que forma é que isso será feito?
É um grande desafio que para nós, Família Blasiana, não passa tanto por “manifestações externas aparatosas’ mas sim por um processo reflexivo e introspetivo que nos permita perceber onde estamos e para onde queremos ir, tendo como referência os critérios de vida e ação do Pe. Brás, qual sol a indicar o caminho e ‘diapasão’ que possibilita ‘aos herdeiros do seu carisma’ afinar “os sons e os ritmos” da sua ação em favor da construção da “casa comum” que todos desejamos mais humanizada e por isso mais habitável, na qual a família desempenha um papel insubstituível. Revisitar as origens, agradecer e renovar o compromisso na ação é a forma mais nobre de evocar o Homem, o Padre e o Fundador.

O objetivo é, por isso, celebrar a vida de um homem que não é de há 50 anos, mas que contínua presente, apelando à promoção, formação e dignificação da mulher e da família nas diferentes dimensões que constituem o ser pessoa; tornando mais conhecida esta personalidade e a sua Obra na comunidade envolvente e na sociedade em geral para que outros beneficiem da sua ação de bem-fazer e possam levar mais longe esta causa.

A celebração dos 50 anos sobre a morte de Monsenhor Alves Brás ocorre também em pleno Ano da Vida Consagrada. Será esta uma ocasião para uma renovação vocacional?
Para as Cooperadoras da Família, este Ano Jubilar, é sem dúvida um “Ano da Graça do Senhor”, um desafio e uma oportunidade para uma verdadeira renovação, vocacional, espiritual e missionária. Fazer memória, agradecer e fortalecer o ardor da missão e renovar o compromisso na ação numa fidelidade dinâmica ao carisma fundacional é próprio de quem consagra a sua vida a Deus em pleno mundo identificando-se, cada vez mais, com o coração compassivo e empreendedor do Fundador que o levou a sair ‘das suas zonas de conforto’ para ir ao encontro das “periferias existenciais”. 

Queremos “estar no mundo com o coração de Deus, ao serviço da família”, dizendo aos jovens que vale a pena “perder tudo e perde-se todo” para possuir o Tudo da vida, ou seja, Aquele Tesouro de valor incomparável – Jesus Cristo.

Este ano será também uma oportunidade para concretizarem algumas linhas de ação saídas da Assembleia de fevereiro. Que linhas pragmáticas são essas?
Entre outras destacamos:
– Elaboração de um plano/projeto de dinamização social e pastoral, pensado e desenvolvido nos diferentes equipamentos sociais e nas localidades onde seja possível a sua execução; um plano transversal às diferentes faixas etárias que congregue sinergias em torno de objetivos comuns, contendo a marca específica do carisma do Fundador;
– Aposta na evangelização e formação da família, privilegiando: os colaboradores, as famílias que beneficiam da nossa ação e o Movimento por um Lar Cristão;
– Aposta na formação de colaboradores – para além da formação técnico-profissional pretendemos colocar um especial enfoque na cultura institucional (carisma e missão) e na formação na área da família;
– Aposta na pastoral juvenil e vocacional propondo aos jovens itinerários de fé e oportunidades para discernirem os seus projetos de vida dando-lhes a conhecer as diferentes vocações.

Além da abertura do Ano Jubilar, a 18 de outubro, que outros momentos marcarão estas celebrações?
Mais dois momentos pretendemos destacar:
– O dia 13.03.2016 em que celebramos, precisamente 50 anos de morte do Venerável Pe. Joaquim Alves Brás, dinamizado pelo mote “50 Anos depois… Está vivo!”. Será uma iniciativa que pretendemos partilhar com as comunidades cristãs e/ou as dioceses em que estamos inseridos(as).
– O dia 19.06.2016 em que teremos a Peregrinação Internacional da Família Blasiana a Fátima, dinamizada pelo mote “Ouvi este grito!… a família espera-vos” na qual ocorrerá o encerramento do Ano Jubilar. Este será o momento alto da celebração. Outras iniciativas estão em projecto para assinalar esta efeméride. Serão comunicadas, ao longo do Ano Jubilar.

Qual o ponto de situação do processo de canonização do Venerável Monsenhor Alves Brás?
O Processo está em curso na Congregação para as Causas dos Santos, em Roma. A 15 de março de 2008, o Papa Bento XVI reconheceu a heroicidade das virtudes do Servo de Deus. Continuamos a rezar e a aguardar com fé e esperança a graça de um milagre que sustente a sua fama de santidade.