Um ano após a morte de Monsenhor Alves Brás, falecido a 13 de março de 1966, as Cooperadoras da Família começaram a desenvolver a sua missão no Brasil. Chegaram em 1967 para tomarem conta de um lar de jovens estudantes na cidade de Guanhães. No passado dia 19 de fevereiro a data foi assinalada com uma Eucaristia presidida por D. Jeremias António de Jesus, bispo de Guanhães, a que se juntou a comunidade local e duas Cooperadoras que integram o Conselho Geral do ISCF – Instituto Secular das Cooperadoras da Família: Céu Simões e Henriqueta Baptista. (ver aqui galeria de imagens)
Atualmente são 12 as Cooperadoras da Família no Brasil, presentes em duas dioceses. Ao longo de 50 anos foram adaptando a sua missão às necessidades da sociedade mas sempre com o serviço à família no horizonte.
Quando as cinco primeiras Cooperadoras da Família vindas de Portugal chegaram ao Brasil, concretamente à cidade de Guanhães, Paróquia de São Miguel e Almas, depararam-se com um povo extremamente acolhedor, hospitaleiro, religioso, solidário, amigo e alegre; características estas que se mantém até hoje. A falecida Aurora, a Maria Otília (que ainda hoje desenvolve no Brasil a sua missão), a Benilde, a Celeste e a Rosa foram as primeiras Cooperadoras a chegar a Guanhães.
As razões da missão
Na época, em 1967, Guanhães era uma pequena cidade, sem grandes recursos financeiros. Viviam-se tempos de ditadura militar. Em Guanhães havia o Curso Normal e as jovens da região vinham estudar para a cidade, fazer o Magistério. Os pais ficavam preocupados com o que pudesse vir a acontecer com as suas filhas. D. Geraldo Proença de Sigaud, arcebispo da arquidiocese de Diamantina, à qual pertencia a paróquia de São Miguel e Almas, numa das suas passagens por Lisboa, conversou com o Pe. Joaquim Alves Brás – Fundador do Instituto Secular das Cooperadoras da Família (ISCF) e expôs-lhe as suas preocupações. D. Geraldo pediu ao Fundador do ISCF um grupo de Cooperadoras que pudessem assumir um lar de estudantes onde, aproximadamente, 45 meninas iriam ficar hospedadas durante o tempo dos estudos. A morte do Pe. Brás, em 1966, interrompeu as conversações. Só um ano depois a diretora geral do ISCF, Isabel Pinto, ao abrir a correspondência, tomou conhecimento do andamento do processo e decidiu dar continuidade ao mesmo.
Quando as primeiras Cooperadoras da Família chegaram tiveram todo um processo de integração e adaptação que não foi fácil. Outra cultura, outros costumes, outra forma de viver a fé e de se relacionar com o sagrado. Enfim, apesar das diferenças e das dificuldades, a Igreja na pessoa dos padres, principalmente do Pe. Geraldo Magela, sempre foi um porto seguro onde as Cooperadoras encontraram orientações para levarem em frente a sua missão dando rosto ao carisma do Instituto.
O serviço à família e à igreja
Além do trabalho com as adolescentes/jovens, as Cooperadoras trabalhavam com cursos de costura, bordados, na catequese, na cruzada eucarística, no cursilho, nas ultreias e na visita às famílias, particularmente às mais carenciadas. Dessas visitas surgiu a necessidade de fundar uma creche que no início começou com 35 crianças, mas rapidamente esse número subiu para 65. O atendimento chegou a 250 crianças, dos 4 meses a 6 anos e 9 meses, para que as suas mães pudessem trabalhar (muitas delas eram mães solteiras). Hoje o Centro de Educação Infantil Lar dos Pequeninos, fundado pelas Cooperadoras da Família, atende 159 crianças dos 4 meses aos 6 anos e 6 meses.
Ao longo dos anos as Cooperadoras diversificaram a sua ação, conforme as necessidades de cada tempo quer a nível social, quer a nível eclesial, quer a nível institucional.
Atualmente são 12 cooperadoras e uma formanda. Cinco cooperadoras são de origem portuguesa, sete de origem brasileira e uma formanda também ela brasileira.
Na diocese de Guanhães estão presentes: em Morro do Pilar, Conceição do Mato Dentro, Rio Vermelho, Santa Maria do Suaçui e Guanhães. Na arquidiocese de Diamantina estão presentes em Curvelo e em Pirapora. Profissionalmente duas exercem o Magistério, uma é pedagoga na secretaria da educação, outra é coordenadora de uma creche, outra trabalha numa creche, e há ainda uma Cooperadoras que trabalha na parte administrativa do hospital. As outras profissionalmente já estão aposentadas, mas eclesial e socialmente todas exercem o ministério nos mais diversos âmbitos: quer na Pastoral da Criança, na catequese, na pastoral familiar ou na pastoral litúrgica. Participam no Conselho Municipal da Criança e do Adolescente (CMDCA), no Conselho Municipal da Saúde e no Conselho Administrativo do Hospital Regional Imaculada Conceição. Desde 2002, em parceria com a pastoral familiar, são responsáveis pelo programa Hora da Família que é emitido aos sábados entre 11h00 e as 12h00.
Em todos os trabalhos profissionais, eclesiais e sociais as Cooperadoras dão prioridade às famílias como razão de ser da sua vocação e missão, já que a família é a fonte da vida e o principal agente de transformação do mundo, a partir da promoção e da santificação da família. Desta forma, as Cooperadoras procuram dar rosto ao carisma, missão e espiritualidade do Instituto.
Os desafios
Hoje a Igreja e a sociedade enfrentam novos e grandes desafios e as Cooperadoras sentem-se impotentes para darem resposta ao clamor do povo. Um dos grandes desafios é “conquistarem” outras jovens para seguirem a Cristo na radicalidade do seu ser, assumindo os seus compromissos batismais com alegria e fidelidade, fazendo a experiência de seguirem Cristo Pobre, Casto e Obediente. A este desafio soma-se o desafio de não ceder à tentação, de não entrar no consumo exacerbado dos meios mediáticos, no modismo, no consumismo e em muitos outros “ismos” que a sociedade oferece, mas que “não são fonte de felicidade, porque a fonte é Jesus”.
Outros dos desafios que as Cooperadoras da Família enfrentam é a cultura do descartável, os vários modelos de família, conhecer bem a doutrina da Igreja sobre a família para que possam ser mediadoras dos conflitos familiares, apontando metas seguras em sintonia com a proposta de Deus para a família de todos os tempos e de todas as culturas.
A experiência da insegurança (perda do emprego, por exemplo), da vulnerabilidade social, conflitos relacionais são fonte de amadurecimento da fé e de novas aprendizagens que possibilitam a descoberta de novos caminhos para compartilhar com as famílias a importância de colocarem em Deus todas as suas seguranças através de uma vida de intimidade com o Senhor da Vida e do Amor.
50 anos de missão
As Cooperadoras da Família sentem que tudo o que realizaram de bom ao longo da história, durante os 50 anos de ação evangelizadora, é fruto do ato amoroso de Deus para com o seu povo e consequentemente com o Instituto. Como na história pessoal, também na história do Instituto muita coisa poderia ter sido melhor; mas quando cada uma realiza o seu melhor e os frutos não aparecem, só lhes resta ter os mesmos sentimentos de São Paulo: “Uns plantam, outros regam, outros colhem, mas em tudo é Deus que dá o crescimento” (cf. 1Cor, 3,6-7). Deste modo as Cooperadoras não podem ter a presunção de colher, mas de plantar e de regar, para promoverem e santificarem as famílias e estas possam ser o celeiro de novas vocações e fonte de transformação do mundo.
Graças ao bom Deus a presença e ação das Cooperadoras da Família inseridas nas diferentes realidades eclesiais, profissionais e sociais tem feito a diferença na vida de muitas pessoas /famílias.
Texto: Arminda Baptista/IM – Jornal da Família – Edição março 2017