PADRE ALVES BRÁS

Decreto

“A família é a fonte de onde brota a sociedade; se a fonte for pura e cristalina, a água será límpida”.

Este pensamento lapidar que o Servo de Deus Joaquim Alves Brás gostava de repetir, constitui a principal chave da acção pastoral, que com tanto zelo desenvolveu na sua vida.

O Servo de Deus nasceu em Casegas, Portugal, a 20 de Março de 1899, numa família de pequenos agricultores. Devido à precária condição de saúde, problema que o acompanhará em todo curso da sua existência, foi-lhe imediatamente ministrado o sacramento do Baptismo.

O seu ambiente familiar foi para ele autêntica escola de formação humana e cristã: os valores do trabalho, o espírito de sacrifício, a solidariedade com os mais pobres, a lealdade e o amor à verdade, a experiência de fé quotidianamente alimentada pela oração, constituíram o concreto horizonte educativo do pequeno Joaquim.

O seu percurso escolar, que naturalmente se cruzava com os trabalhos agrícolas e domésticos, sofreu uma interrupção brusca na adolescência, por causa de uma dolorosa doença: esta prova constituiu entretanto uma etapa significativa no processo de amadurecimento do jovem, porque robusteceu a sua personalidade e o aproximou ainda mais de Deus. Bem cedo se foram manifestando nele os primeiros sinais de vocação ao ministério Presbiteral: era muito sensível aos valores espirituais, e empenhava-se com formas simples e espontâneas no apostolado entre os amigos.

Superados alguns obstáculos, entre os quais pesou o que estava ligado às condições de saúde, o Joaquim entrou no seminário, onde viveu com grande fervor os anos de estudo e de formação em ordem à sagrada ordenação. A sua resposta à vocação, sempre mais convicta e coerente, exprimia a sua tensão interior para santidade.

Ordenado sacerdote, iniciou o exercício do ministério como pároco e sucessivamente director espiritual do Seminário maior.

No âmbito da sua actividade pastoral, teve contacto com algumas situações muito problemáticas, sob o aspecto moral e social, que envolvia sobretudo mulheres. Assim lhe veio a inspiração de fundar uma associação, a Obra de Providência e Formação das Criadas, dedicada ao cuidado humano, cristão, cultural e profissional de tantas jovens provenientes do simples mundo rural, que eram admitidas, na qualidade de colaboradoras domésticas nas famílias da emergente burguesia: a sua presença constituía uma fonte de riqueza, mas ao mesmo tempo também um problema para si próprias e para os núcleos familiares que as acolhiam.

Na origem desta instituição, juntamente com a acção da graça está indubitavelmente a experiência humana e espiritual que o servo de Deus tinha vivido na sua própria família, cristã não só por tradição mas também e sobretudo por convicção. A Obra, posteriormente será apoiada e sustida espiritualmente pelo Instituto Secular das Cooperadoras da Família.

Consagração, secularidade e apostolado são o fermento que o Pe. Joaquim infundiu nestas associações eclesiais, que graças à palavra, à direcção espiritual e ao constante exemplo do seu fundador, se solidificaram e progressivamente se foram difundindo nas várias dioceses, produzindo notáveis frutos sob o perfil espiritual e também civil.

Entre os vários instrumentos que o Servo de Deus utilizou para dar forma à sua acção pastoral ao serviço da família, evidencia-se claramente uma série de publicações, com uma linguagem clara e comunicativa, conjugando a apresentação dos valores cristãos com os temas da actualidade: segundo o seu pensamento, “é através da imprensa que podemos levar a verdade do Evangelho, onde não podemos chegar pessoalmente”.

O caminho espiritual do Pe Joaquim foi caracterizado por uma vigorosa procura da perfeição, que cultivou desde criança: generoso em responder à graça, identificou-se com Jesus Sacerdote e Vítima, sobretudo no espírito de oração, na celebração eucarística, na vida de oblação; uma fé espontânea e sincera motivou uma ardente caridade para com todos, de modo particular para com as classes sociais mais necessitadas da sua delicada atenção. O estilo de vida humilde, austero e coerente tornaram-no testemunha credível do que anunciava. Perante as múltiplas provações, que teve de enfrentar, o Servo de Deus mostrou-se forte e sereno, cheio de disponibilidade e de esperança, livre de qualquer forma de vingança ou de agressividade.

A morte do Pe Joaquim colheu-o inesperadamente a 13 de Março de 1966, num hospital de Lisboa, onde esteve internado depois de um acidente de viação. Por ocasião do seu funeral verificaram-se notáveis manifestações de veneração e de respeito diante dos seus restos mortais, sinal da fama de santidade que já o acompanhava em vida e que progressivamente foi crescendo depois do seu falecimento.

Exactamente em virtude desta fama de santidade, se instruiu em Lisboa o Processo Diocesano que decorreu de 15 de Junho de 1990 a 18 de Março 1992, cuja validade jurídica foi reconhecida pela Congregação para as Causas dos Santos com o Decreto de 4 Junho de 1993. Preparada a Positio, discutiu-se segundo o habitual procedimento, se o Servo de Deus tinha exercitado as virtudes em grau heróico. Com êxito positivo, realizou-se, a 18 de Janeiro de 2008, o Congresso Peculiar dos Consultores Teólogos. Os Padres Cardeais e Bispos na Sessão Ordinária de 11 de Março 2008, ouvida a relação do Ponente da Causa, o Exmo Mons. Javier Echevarría Rodríguez, Prelado da Prelatura Pessoal da Opus Dei, reconheceram que o Servo de Deus Joaquim Alves Brás exercitou de modo heróico as virtudes teologais, cardeais e anexas.

Apresentada, portanto, uma cuidada relação de tudo isto ao Sumo Pontífice, Bento XVI, pelo subscrito Cardeal Prefeito, o Santo Padre, acolhendo e ratificando os votos da Congregação para as Causas dos Santos, no subscrito dia, solenemente declarou: Constam em grau heróico, as virtudes teologais da Fé, Esperança e Caridade, tanto em relação a Deus como ao próximo, bem como as cardeais da Prudência, Justiça, Temperança e Fortaleza e as anexas, do Servo de Deus Joaquim Alves Brás, Fundador do Instituto Secular das Cooperadoras da Família, no caso e para o fim de que se trata.

O Santo Padre mandou tornar público este decreto e de o transcrever nas Actas da Congregação para as Causas dos Santos.

Dado em Roma, dia 15 do mês de Março do Ano do Senhor 2008.

JOSÉ Card. SARAIVA MARTINS

Prefeito

MICHELE DI RUBERTO

Secretário