PADRE ALVES BRÁS

Monsenhor Alves Brás…50 anos depois

Data

Nasceu no encontro entre o século XIX e o século XX, no ano de 1899. Portugal era, na altura, um país onde predominava a ruralidade marcada por um fraco desenvolvimento socioeconómico. Foi neste ambiente que nasceu, no seio de uma família humilde, Joaquim Alves Brás. Desde cedo começou por ajudar o pai nos trabalhos do campo na pequena aldeia de Casegas, a pouco mais de trinta quilómetros da Covilhã. Mas aos 11 anos uma coxalgia levou-o a ficar três anos na cama. Foi neste período que descobriu a vocação sacerdotal.

Recuperado da doença, mas com mazelas para o resto da vida (ficou sempre a coxear), Joaquim Alves Brás foi ordenado sacerdote em 1925. Depois de passar pela paróquia de Donas foi nomeado diretor espiritual do seminário da Guarda e confessor do Bispo desta diocese. Na vivência e convivência com a realidade das gentes da Guarda, o padre Brás começou por visitar o hospital da cidade e cedo se deparou com a precária situação das “criadas de servir” que vinham das zonas rurais para a cidade. Eram jovens com pouca formação, sujeitas aos defeitos e feitios de patrões menos escrupulosos.

Uma rede ao serviço da família
É neste contexto que em 1931 nasce, na cidade da Guarda, a OSZ – Obra de Santa Zita dedicada à proteção e formação das “criadas de servir”. O objetivo era formar as jovens para estarem ao serviço das famílias que serviam e ao serviço das famílias que viriam a constituir. Pouco a pouco a OSZ alarga-se a todo o país. Mas o padre Alves Brás precisava de pessoas dedicadas a estas casas e a esta causa. Dois anos mais tarde, em 1933, funda o ISCF – Instituto Secular das Cooperadoras da Família. “O padre Brás, quando fundou o Instituto, tinha na mente um Instituto Secular de pessoas consagradas em pleno mundo, com o caris específico do cuidado pela santificação da família”, afirma Alice Cardoso, Coordenadora Geral do ISCF.

As Cooperadoras da Família fazem votos de pobreza, obediência e castidade, não usam hábito e podem viver em grupos de vida fraterna ou nas suas próprias casas e desempenharem as mais diversas profissões. São mulheres de ação, inseridas no mundo ao serviço da família. Passados 50 anos sobre a morte de Monsenhor Alves Brás são elas que têm vindo a dar vida e a expandir as obras fundadas por Monsenhor Alves Brás.

Depois da OSZ e do ISCF o padre Brás fundou em 1960 o CCF – Centro de Cooperação Familiar e o Jornal da Família. Em 1961 funda o MLC – Movimento por um Lar Cristão. Juntamente com o movimento juvenil Focos de Esperança, que conta com mais de duas décadas de existência, estas instituições formam a Família Blasiana.

Servir hoje a família
As Cooperadoras da Família estão hoje à frente de 22 casas no país e desde 1966 que estão também no estrangeiro. Atualmente têm missões na Colômbia, Brasil (Miras Gerais), Espanha (Madrid), França (Paris), Itália (Roma) e em Angola (Cabinda). Ao todo são 270 mulheres que, nos dias de hoje, põem em prática o carisma de Monsenhor Alves Brás. Mas de que forma o fazem para continuarem fieis ao Fundador? O Jornal da Família visitou algumas das casas a cargo das Cooperadoras da Família.

Na Obra de Santa Zita na Penha de França, em pleno coração de Lisboa, as Cooperadoras têm as valências de Creche e Lar de Idosos. São as novas formas de servir hoje a família. Olívia Aires, Cooperadora da Família há 38 anos, afirma que “ao longo do tempo Monsenhor foi-nos dizendo que tínhamos de nos adaptar a cada momento e tínhamos de procurar dar respostas às necessidades de cada tempo desde que estivesse sempre no horizonte a formação e o cuidar da família”. Apoiar as mais tenras idades e a fase final da vida são hoje essenciais numa sociedade onde a vida ativa de pais e filhos deixa pouco tempo para o cuidado das crianças e dos mais idosos.

É também esta a opinião de Maria dos Prazeres, uma Cooperadora que há 42 anos dedica todo o seu tempo ao Centro de Cooperação Familiar onde se insere a Creche e Jardim de Infância “O Botãozinho”, em Carcavelos. “Na medida em que acolhemos bem, em que os pais vão para o trabalho descansados porque sabem que os filhos estão bem entregues, cumprimos o carisma de Monsenhor cuja preocupação era a família”, explica Maria dos Prazeres.

Para além das valências ligadas ao apoio à infância e à terceira idade vamos também encontrar casas onde a formação é a palavra de ordem. Hoje a formação já não é vocacionada para as “criadas de servir” como nos tempos do padre Brás, mas é dirigida aos jovens com percursos mais ou menos problemáticos.

Nas instalações da Rua de Santo António à Estrela, em Lisboa, onde Monsenhor viveu durante largos anos, para além das várias valências de apoio à terceira idade, a Escola Asas – Escola Profissional de Agentes de Serviço e Apoio Social, aposta na formação dos jovens com cursos profissionais ou vocacionais. As necessidades de formação de hoje não são as mesmas do tempo do padre Brás e a formação passa por cursos como animação sociocultural, técnico de apoio à infância ou técnico de turismo. Na maioria dos casos os jovens que chegam a esta Escola “já têm um percurso perturbado, de insucesso, de desencanto com o estudo mas, muitas vezes, através da formação em contexto de trabalho, conseguimos que eles adquiram o gosto pelas aulas”, conta Odete Martins, Cooperadora da Família à frente da direção pedagógica da Escola Asas. 

As creches e jardins de infância, o apoio à terceira idade, a formação da Escola Asas são as respostas mais tipificadas que as Cooperadoras da Família levam a cabo em muitos pontos do pais e no estrangeiro. Mas há outras formas de apoiar a família que partem das casas da Cooperadoras: os CAF – Centros de Aconselhamento Familiar, onde as famílias procuram apoio nas mais diversas áreas, e o Movimento por um lar Cristãos, são apenas mais dois exemplos do serviço que estas mulheres prestam à família. 

Os desafios
Mas não tem sido fácil esta adaptação aos tempos e às necessites da família. O mundo parece sempre andar um passo à frente. Maria do Céu Simões, é presidente nacional da Obra de Santa Zita e assume a dificuldade. “Nós às vezes temos alguma dificuldade em mudar tanto quanto o necessário para darmos hoje uma resposta credível às necessidades das pessoas”. Exemplo desta constante necessidade de adaptação é, por exemplo, o Centro de Cooperação Familiar em Casegas, a aldeia natal de monsenhor Alves Brás. A casa já teve uma creche cheia de crianças mas a emigração e o envelhecimento da população reduziram drasticamente a natalidade e hoje não há crianças na aldeia. O equipamento, agora remodelado, aguarda por novas funções para poder corresponder ao carisma de Monsenhor Alves Brás.

Tal como muitas outras instituições da Igreja também o ISCF se debate com falta de vocações. As que optaram por esta forma de servir a família e sociedade acreditam que Deus vai continuar a chamar. Talvez não com a abundância de outros tempos, mas vai continuar a chamar. De qualquer forma, a preocupação presente é formar no carisma de Monsenhor Alves Brás as centenas de colaboradores que trabalham nestas casas. “As Cooperadoras da Família são cada vez menos e os nossos colaboradores são para nós os continuadores da nossa ação e da nossa missão”, afirma Alice Cardoso. 

Monsenhor Alves Brás partiu antes do tempo. Não resistiu às consequências de um acidente de viação e faleceu a 13 de março de 1966. Passados 50 anos sobre a sua morte… ele continua vivo no coração e nas obras levadas a cabo pelas Cooperadoras da Família, a alma da Família Blasiana.(1)

Texto: IM/Jornal da Família – 10 mar, 2016
(1) Artigo publicado na edição de março de 2016 do Jornal da Família