Como tantas vezes me acontece com celebrações ligadas às Cooperadoras, uma vez mais vou ter de fazer um exercício de contenção, procurando partilhar apenas algumas das muitas coisas que pude experimentar, ver e ouvir no Congresso Internacional sobre a família recentemente realizado.
Com o tema “Atravessados pelo Amor e pela Esperança – Cuidar as famílias com(o) o Pe. Brás, o Congresso foi, sem dúvida, um dos pontos altos das celebrações jubilares do Centenário da Ordenação Sacerdotal do Pe. Joaquim Alves Brás, que terão o seu término no próximo dia 20 de julho na grande peregrinação jubilar de toda a Família Blasiana, em Fátima.
Nesta partilha, a partir da experiência do Congresso, faço um duplo exercício de olhar. Primeiro olho para trás e relembro tantas reuniões nas quais um conjunto de pessoas, que hoje são também amigos, juntamente com um grupo de Cooperadoras, pudemos sonhar e pensar este jubileu. O passado, o presente e o futuro, foram tidos em conta nesse sonho e nesse pensamento. De outro modo não poderia, aliás, ter sido, pois se queremos levar a sério o testemunho e carisma recebido temos de assumir a totalidade do tempo em todas as suas dimensões constitutivas. Deste modo, com os pés bem assentes no presente revisitamos às fontes para nelas ir, de novo, saborear a frescura e a beleza da intuição do Pe. Brás. Foi impressionante poder constatar como essa água continua a matar a sede de tanta gente, e como essa intuição se traduziu num carisma que continua hoje a ser muito atual. Mas com esses pés bem assentes no presente, procurámos também perspetivar o futuro, procurando identificar nele os caminhos de concretização do carisma.
Da experiência vivida durante esses dois dias (17 e 18 de maio) quero simplesmente destacar aqui o ambiente de ternura e carinho que se viveu. Foi o testemunho da ternura e do carinho que o Pe. Brás tinha pelas Criadas de Servir, pelos Sacerdotes, pelas Cooperadoras e pelas Famílias, mas foi também o testemunho de ternura e carinho de todos os que participaram pelo Pe. Brás e pela Obra que fundou, como também a ternura e o carinho pelas Cooperadoras e igualmente por esta missão e vocação de cuidar das famílias. Ternura e carinho foram, sem dúvida, sentimentos maiores vividos nestes dias.
A partir destes sentimentos ensaio, então, o segundo movimento, olhando para o futuro. O que recebemos da vida do Pe. Brás é um dom que não pode ser simplesmente replicado, ou ficar reservado para as Cooperadoras. Fazer isso, seria, no meu entender, um gesto de infidelidade. Por isso agora é necessário a ousadia do amor e da esperança, que certamente nos permitirão, com criatividade, percorrer os novos caminhos que se abrem. O dom que Deus nos concedeu com a Vida e Obra do Pe. Brás a isso nos impele.
Na tentativa de procurar identificar esses novos caminhos e de concretizar essa criatividade indispensável recorro à belíssima partilha que a Profª Claúdia Luna fez no Congresso, na qual fez referência a duas aprendizagens, dois desafios e duas esperanças, de que aqui dou conta a modo telegráfico.
Duas aprendizagens:
- “Todos, todos, todos…” No cuidado que devemos desenvolver pelas famílias este é o horizonte a que somos chamados.
- O casal, claro…, mas também todos os outros membros da família. O casal ocupa sem dúvida um lugar insubstituível na realidade familiar, mas esta não se pode reduzir a ele, pelo que o cuidado das famílias deve alargar a sua atenção e preocupação a todos os seus membros.
Dois desafios:
- Olhar com muita atenção o cuidado. Se quisermos dizer de outro modo, cuidar do cuidado que sempre devemos ter pelas famílias. Todo o exercício de pastoral familiar não pode deixar de ser nunca um exercício de cuidado das famílias.
- A gestão da diversidade interna. Nem todos pensamos da mesma maneira, nem todos temos as mesmas competências, nem todos temos as mesmas sensibilidades. Na complementaridade, entre todos, certamente o exercício do cuidado das famílias poderá sair mais enriquecido
Duas esperanças:
- Que os gestos e palavras do papa Francisco acerca da família inspirem os nossos gestos e as nossas palavras. As famílias, com todas as suas vicissitudes, continuam a ser lugar de referência onde se pode aprender a intercambiar o dom do amor, da confiança, do perdão, da reconciliação e da compreensão.
- Aprender (nas relações) algo de Deus que ainda não sabemos. A capacidade e disponibilidade para através dos outros descobrirmos algo de novo acerca de Deus é verdadeiramente fundamental no contexto da pastoral familiar.
Nestes tópicos jugo que podemos encontrar um excelente mapa para percorrer, com criatividade, os novos caminhos que se abrem. Agora, que o Congresso terminou, é tempo de começar a percorrer esses caminhos.
Termino esta breve partilha lembrando o que os bispos portugueses disseram na sua nota pastoral acerca do centenário da ordenação sacerdotal do Pe. Joaquim Alves Brás (5 de maio):
“O bem da Família é verdadeiramente decisivo para a Igreja e para o mundo (cf. AL 31), por isso queremos, no contexto desta celebração, incentivar toda a Família Blasiana a prosseguir a obra iniciada pelo Venerável Padre Joaquim Alves Brás, cuja intuição e carisma continuam hoje atuais e necessários, convidando-a e animando-a à audácia do anúncio e da concretização da beleza do Evangelho da Família.
E que também no âmbito da celebração do Jubileu da Esperança e da dinâmica sinodal que estamos a viver, o Instituto Secular das Cooperadoras da Família e toda a Família Blasiana possam ser testemunho do cuidado pelas famílias e sinal de esperança, tendo a coragem de fazer parte do sonho de Deus, a coragem de sonhar com Deus, a coragem de unir-se a Deus nesta história de construir um mundo onde ninguém se sinta só (cf. AL 321).”
É isso mesmo que é pedido as Cooperadoras e a todos nós que com elas e através delas partilhamos desta intuição e carisma: a coragem de sonhar com Deus…
Juan Ambrosio
Artigo da edição de julho de 2025 do Jornal da Família
Foto: Congresso “Atravessados pelo Amor e pela Esperança – Cuidar as famílias com(o) o Pe. Brás” (Arquivo ISCF)