Monsenhor Joaquim Alves Brás, um padre santo para os dias de hoje

Data

Na viragem do século XIX para o século XX, nasceu o Venerável Joaquim Alves Brás. Com um exórdio quase funesto, iniciou a sua existência terrena praticamente condenado a uma morte prematura, razão pela qual logo após o parto foi mergulhado nas águas do batismo.

A doença, como uma sombra terrível e impiedosa foi a sua mais assídua companhia ao longo da sua vida, marcando-o sobretudo fisicamente. No entanto nem a dor física nem os sentimentos de revolta que podia ter cultivado depois que adolescente ficou irremediavelmente marcado pela coxalgia, o inibiram de se transformar no padre santo que hoje milhares de fiéis admiram.

A sua biografia não tem pontos obscuros, é conhecida e está publicada com abundantes fontes documentais. Pelo que me abstenho de a referir neste brevíssimo testemunho que aqui exprimo sobre este Venerável.

De tantas páginas da sua história e dos tantos gestos de bem que realizou destaco que emerge um retrato de alguém que se consagrou a Deus no altar da eucaristia como presbítero, sem, contudo, perder o interesse por aliviar aquelas vidas sacrificadas noutros altares nos variadíssimos caleidoscópios de dor, pobreza e desprezo, como era o caso de centenas de jovens mulheres que no século passado saiam das suas aldeias para procurar o sustento nas grandes cidades. Atento ao compreensível desespero de muitas, aos perigos de ordem moral que podiam incumbir sobre elas, às agressões à sua dignidade de seres humanos, criou a Obra de Santa Zita e as Cooperadoras da Família as quais hoje, prolongam no tempo e segundo as circunstâncias sociais que continuamente se transformam, os seus gestos e o seu espírito de tudo fazer pela promoção integral da mulher e da família.

Como todos os santos que sobem aos altares das nossas igrejas, o Venerável Alves Brás, ensina-nos que sem intimidade com Deus, cultivada na oração, pouco temos a dar a quem tanto precisa da nossa ajuda material ou espiritual. O seu empenho social, imenso e pioneiro, não obstruiu o caminho para Deus que tem na oração um veículo insubstituível. Conseguiu ligar a prece à ação, soube unir as mãos para louvar a Deus e abri-las para ajudar a quem dele precisou. Talvez seja este o elemento da sua vida que mais admiro na figura e na obra deste homem que já durante a sua vida terrena se transfigurou em verdadeiro alter Christus, não só em virtude do caráter do seu ministério sacerdotal, mas por força da sua caridade operativa.

Em todos os tempos encontramos dificuldade em cultivar a nossa verdadeira identidade cristã. Por consequência, raramente temos a sabedoria de alimentar como deve ser, a dimensão espiritual e a vertente ativa que ela nos obriga a ter. A vida do Venerável Monsenhor Alves Brás, homem santo, é luz segura para alcançarmos o equilíbrio entre a necessidade de termos que ajoelhar todos dias perante o Mistério que é Deus e de nos levantarmos para o irmos encontrar descodificado no dia a dia dos homens e mulheres nossos contemporâneos, de quem tantas lições de vida e ajuda recebemos e também para quem, talvez, podemos ser cireneus e escada para o Céu.

Padre António Saldanha Albuquerque
Artigo da edição de julho de 2025 do Jornal da Família

Foto: Retiro em Lamego | Obra de Santa Zita -1956 (Arquivo ISCF)