O Centenário da Ordenação Sacerdotal do Pe. Joaquim Alves Brás, que se completa este ano, é um momento de profunda reflexão e gratidão pela Vida e Obra de um homem, que embora tenha partido prematuramente, permanece vivo na memória e na devoção de tantos que beneficiaram da sua presença e dedicação. A sua influência transcende o tempo e o espaço. Espalhando-se não só por Casegas, sua terra natal, mas também por Portugal, Espanha, Itália e alguns países lusófonos.
Foi um sábio, um educador social, um benfeitor e, acima de tudo, um exemplo de fé e generosidade. Desde o apoio aos mais necessitados até à fundação das diversas obras que criou para promoção da família, o Pe. Brás deixou-nos um legado que continua a inspirar. A sua preocupação com o bem-estar, também dos seus conterrâneos, era evidente.
Cada gesto seu refletia a sua missão de levar esperança e conforto, como quando, num momento de dor profunda, apoiou e confortou a minha mãe após a súbita perda do marido, meu pai, num acidente de trabalho em França, em 14 de maio de 1964. Tinha eu então 11 anos e, hoje, vejo esse gesto como um testemunho do seu caráter compassivo.
Tive a felicidade de ainda conhecer o Pe. Joaquim Alves Brás, pois tinha 13 anos, quando em 1966 (há 59 anos) a aldeia que o viu nascer foi surpreendida com a notícia da sua morte prematura.
Falar do Homem e Educador Social, que foi Mons. Brás, é recordar o homem sempre apressado, a coxear, que percorria as ruas em terra batida, da centenária aldeia de Casegas (poucas tinham calçada de seixos), a visitar doentes ou a caminho da Igreja, em cujas obras, como me contaram, se envolvem de corpo e alma, colaborando com os padres que as promoveram entre 1933 e 1949.
O lambrim de azulejos, que reveste todo o interior da igreja, da autoria do arquiteto Fernando de Barros Santa Rita, inaugurado em 1959, foi em parte custeado pelos fundos recolhidos com a então chamada “campanha do ovo”, pensada pelo Pe. Brás. Aos domingos, um grupo de raparigas fazia o peditório de ovos pelas ruas, cujo produto da venda revertia a favor do lambrim. A capacidade criadora e empreendedora do Pe. Brás estava em tudo aquilo em que se envolvia e acreditava.
Em terrenos oferecidos pelo próprio Pe. Brás, e quase na sua totalidade a expensas próprias, servindo-se para tal de heranças suas e dos seus familiares, mandou construir o Centro de Cooperação Familiar, na sua terra natal, uma obra física e social, com o objetivo de promover, formar e dignificar as famílias. Durante décadas, ali funcionou um infantário frequentado ao longo dos anos por largas centenas de crianças de Casegas, mas também da vizinha freguesia de Sobral de São Miguel. Ter edificado, na sua terra natal, um Centro de Cooperação Familiar é um reflexo da sua forte ligação à aldeia que o viu nascer, onde deixou uma obra que, ainda hoje, é um marco e uma referência que continua a moldar as nossas vidas.
Quando recordamos a sua morte e celebrarmos a sua Vida e Missão, reafirmamos o nosso orgulho e gratidão pelo seu legado.
Pe. Joaquim Alves Brás, bem-haja por tudo. Que a sua memória continue a iluminar e guiar aqueles que procuram inspiração na sua Vida dedicada ao amor e à fé.
As pegadas que deixou nas ruas estreitas de Casegas não desapareceram, pelo contrário, abriram caminho para avenidas largas, levando a sua mensagem e obra ao mundo.
A esperança de vê-lo um dia elevado aos altares é um desejo sincero da comunidade que se orgulha do seu mais ilustre filho e que reconhece a santidade e grandeza da sua obra e serviço.
Em 2008, o Papa Bento XVI, reconhecendo as virtudes do Pe. Joaquim Alves Brás, declarou-o “Venerável”, um reconhecimento importante no caminho para a beatificação. A população de Casegas, sua terra natal, sempre demonstrou grande devoção e esperança de que ele fosse levado à condição de Beato durante o pontificado do Papa Francisco, que o Senhor chamou a SI no passado dia 21 de abril.
No entanto, a causa do Pe. Brás continua a ser acompanhada com atenção e sua obra e legado permanecem vivos na comunidade e nas instituições que fundou.
A vida e a ação deste homem merecem, sem dúvida, a justiça pelo modo heróico com que serviu a causa do Evangelho e, estou certo, que Deus lhe irá conceder as graças necessárias à sua santidade.
César Craveiro
Pres. da Junta de Freguesia de Casegas e Ourondo
Artigo da edição de julho de 2025 do Jornal da Família
Fotos:
Casa onde nasceu o Pe. Joaquim Alves Brás, Casegas (Arquivo ISCF)
Igreja paroquial de Casegas (Arquivo ISCF)