(XI) – Padre Joaquim Alves Brás – Cem Anos devotados ao Coração de Jesus

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A devoção de Monsenhor Alves Brás ao coração de Jesus bebeu-a na infância e no seio da família, mas foi no Seminário que se acentuou. A reflexão é da Cooperadora Conceição Brites.

A devoção ao Coração de Jesus Tal devoção e amor envolveu-o praticamente desde a infância, donde bebeu os primeiros goles desta suculenta bebida espiritual, através da vivência da mesma devoção na sua família. Porém, vamos realçá-la, sobretudo, a partir do Seminário

“DILEXIT NOS” – «Amou-nos» – foi a última Encíclica do Santo Padre, Papa Francisco, sobre o amor humano e Divino do Coração de Jesus. Nessa expressão de S. Paulo (Rom 8, 37), referente a Jesus Cristo, que cita na sua introdução, o Papa diz que ela nos ajuda a descobrir que «nada será capaz de separar-nos» desse amor» (Rm 8, 39); que Paulo o afirmava com firme certeza, porque o próprio Cristo tinha garantido aos seus discípulos: «Eu vos amei» (Jo 15, 9.12); «Chamei-vos amigos» (Jo 15, 15); que Ele nos amou primeiro (cf. 1 Jo 4, 10); e que, graças a Jesus, «conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (1 Jo 4, 16).

Continuando, diz-nos, ainda, o Papa que, «para exprimir o amor de Jesus Cristo, se recorre frequentemente ao símbolo do coração». Daí, as muitas imagens e correspondentes devoções ao Coração de Jesus, surgidas ao longo dos séculos, que inspiraram, e continuam a inspirar, tantos fiéis e tantos santos, na Igreja de Deus. Muitos destes santos, receberam até graças especiais – visões, aparições, revelações – acerca do Coração de Jesus e, nessa medida, a missão de divulgarem o incomensurável amor de Cristo através da imagem do seu Coração santíssimo e amantíssimo. Se bem que esta devoção tenha raízes muito antigas, sobretudo na Idade Média, particularmente com Santa Gertrudes, a Grande, recordamos apenas duas das mais recentes e conhecidas: uma religiosa de FrançaSanta Margarida Maria Alacoque que, entre 1673 e 1675, teve uma série de aparições de Jesus Cristo mostrando o seu coração cercado de espinhos e envolvido em chamas a pedir reparação, e mais tarde, no século XIX, as revelações místicas da Beata Maria do Divino Coração Droste zu Vischering, Religiosa do Bom Pastor, em Portugal, que, a pedido do próprio Jesus Cristo, solicitou ao Papa Leão XIII que consagrasse o mundo inteiro ao Sagrado Coração de Jesus.

Para além destas aparições ou visões extraordinárias, importa aqui também salientar, na divulgação desta prática, a extraordinária e relevante missão de sacerdotes, nomeadamente do Pe. Mateo Crawley-Boevey, da Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, que, do Chile onde vivia, correu mundo, chegando também a Portugal, a pregar e implementar a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, em cujas conferências sabemos que participou o Servo de Deus Padre Joaquim Alves Brás.

Este o pano de fundo, sobre o qual, pretendo focar o grande amor, e correspondente empenhamento apostólico, do Padre Brás, na devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Tal devoção e amor envolveu-o praticamente desde a infância, donde bebeu os primeiros goles desta suculenta bebida espiritual, através da vivência da mesma devoção na sua família. Porém, vamos realçá-la, sobretudo, a partir do Seminário. Pelos escritos e outros testemunhos, ficamos a saber que, ainda seminarista, o Joaquim Alves Brás já exortava os seus companheiros à prática da devoção ao Coração de Jesus. Primeiro, sensibilizando-os com palavras, como estas: «vou apresentar-vos a queixa que o Coração de Jesus fez, em Paray-le-Monial, a S. Margarida Maria»: “Eis o coração que tanto tem amado os homens e que tudo há sofrido até se esgotar e consumir para lhes dar um testemunho do seu amor; mas, a maior parte, só me corresponde com ingratidão… «E…, de tal maneira lhe mostrava o seu Coração Santíssimo, que era a representação viva do que lhe estava dizendo. Pois vede: aquelas chamas que o envolvem, e aquela abertura que patenteia a entrada a todos os que a Ele recorrem, não nos mostram claramente o amor que tem aos homens? E aquela cruz que o encima e aquela pungente coroa de espinhos que o circunda e lacera não nos mostram quanto detesta a nossa ingratidão, a nossa tibieza no pecado, pois tanto o fazem sofrer?!

Após esta sensibilização para o amor que não é amado, o Joaquim lança uma pergunta e avança com a resposta:

Pergunta: «Como fazer para lhe agradar»?Resposta: «Tendo uma verdadeira e sólida devoção ao Coração de Jesus; devoção esta que nos leva a dar-lhe todo o amor do nosso coração, sem reservas nem partilhas; que nos leva a reparar todas as ofensas que lhe são feitas;…que nos leve, enfim, a cumprir todos os desejos deste dulcíssimo Coração. E como um dos grandes desejos que Ele tem é ver a sua imagem entronizada em todos os lares, trabalhemos, caros companheiros, para que este desejo, se Lhe cumpra.

E continua: «Mas a par desta entronização nos lares, Jesus certamente quer uma outra que é a entronização em nossos corações; e por isso cumpramos-lhe também este desejo.

Façamos de nossos corações outros tantos tronos e coloquemos neles Jesus, de maneira que viva sempre em nós e presida a todos os nossos atos. Ah! Então sim que se cumprirá em nós a promessa do Coração de Jesus: “As almas tíbias mudá-las-ei em fervorosas” porque é impossível que os nossos corações, sempre em contacto com aquela fornalha ardente de amor, permaneçam frios. E já que tão grandes vantagens nos podem vir desta entronização não adiemos, mas façamo-la já, hoje, aqui, aos pés de Jesus Sacramentado e da nossa querida Mãe do Céu dizendo-lhe: Coração SS de Jesus eu Vos consagro o meu coração».

Até aqui, os escritos que se, por um lado, falam por si deste coração devotado do Padre Brás, ao Coração de Jesus, mais ainda fala a sua prática nesse sentido. Com efeito, sabemos, por outras fontes escritas e por testemunhos orais, que o ainda somente Joaquim Alves Brás logo compôs fórmulas de consagração pelas quais, os seus companheiros e, depois de ordenado sacerdote, os seus discípulos, fizeram esta consagração. Mais, tarde, já noutras áreas do seu apostolado, levou os primeiros elementos fundacionais do Instituto Secular das Cooperadoras da Família, e mais tarde, as associadas da Obra de Santa Zita, a fazerem a sua consagração individual ao Sagrado Coração de Jesus, assim como ele próprio consagrou, de forma coletiva, ambas as Obras que fundou ao Coração Santíssimo de Jesus. Por outro lado, sendo um apóstolo específico e incansável da Família, sensibilizou inúmeros casais, para fazerem a entronização da imagem do Sagrado Coração de Jesus nos seus lares, atos a que ele presidiu, sempre que podia, com grande satisfação e gozo espiritual.

A cem anos da sua ordenação sacerdotal, o padre Brás continua a falar-nos e, neste caso a exortar-nos, como fez logo com os companheiros e depois com todos os destinatários da sua missão. Ele interpela-nos – a cada pessoa individual, mas também a cada família: –   Porque não fazer, quanto antes, já, a sua consagração ao Sagrado Coração de Jesus? – Porque não fazer a entronização da sua imagem no lar de cada família para juntos, lhe fazerem a oferenda da própria vida, e do dia a dia? As graças derramadas pelo Seu Coração, nas famílias e, através delas, na sociedade, seriam muito abundantes, porque Deus nunca se deixa vencer em generosidade.

Feito este apelo em nome do Padre Brás, termino como comecei, com mais umas palavras do Papa Francisco da citada Encíclica “Dilexit nos” – “Amou-nos”: no seu nº 28, com o seguinte título: O mundo pode mudar a partir do coração.

«Só a partir do coração é que as nossas comunidades serão capazes de unir e pacificar os diferentes intelectos e vontades, para que o Espírito nos possa guiar como uma rede de irmãos, porque a pacificação é também uma tarefa do coração. O Coração de Cristo é êxtase, é saída, é dom, é encontro. N’Ele tornamo-nos capazes de nos relacionarmos uns com os outros de forma saudável e feliz, e de construir neste mundo o Reino de amor e de justiça. O nosso coração unido ao de Cristo é capaz deste milagre social».

Conceição Brites
Cooperadora da Família
Artigo da edição de junho de 2025 do Jornal da Família

Foto: Arquivo ISCF